A Esperança da Caixa de Pandora

Apesar de todo o caos ela existe!

Afaste-se, perigo!

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Não é mais possível continuar assim. Tinha uma placa de aviso: afaste-se, perigo, cuidado com as impossibilidades e os obstáculos invisíveis. Mas o que é a vida senão esperar por um alento, um afago, um afeto. Triste ironia humana, castigo para os tolos sonhadores atrás de utopias.

Eu tinha todas as provas à mostra, todos os argumentos disponíveis ali visíveis, nítidos, claros, sem contradição de fatos. No entanto, a imbecilidade faz parte das qualidades humanas e qualquer motivo passa a ser aceito para disfarçar o que não é tão bonito, o que não é tão correto e assim manipular o sistema. E sem cuidado algum, fui eu mais uma vez. Desolação. Esta é a conclusão.

Bem feito. Não tenho pena. Justo, merecido. Não fui enganada. Eu sabia de todas as condições. Simplesmente eu não poderia exigir algo que não tinha para me oferecer. Não tinha culpa do vazio das emoções e nem das inseguranças criadas pelo tempo.

E vencida pelo cansaço disse com um nó na garganta e o coração apertado: “Eu te deixo partir porque sei que você não vai conseguir me acompanhar”. Foram palavras arrancadas a sangue frio da minha consciência em minutos de lucidez. Mesmo invadida pelo desespero das últimas sílabas, mantive-me firme na finalização da sentença, esperando uma faísca de revolta para quem sabe talvez, mudar o curso da história.

No entanto, olhou no fundo dos meus olhos, com uma expressão de cachorro abandonado pela mudança e confirmou: “Sim, eu sei”. Não, não era para você saber de nada. Era para você refutar tudo, ficar bravo, estufar o peito e dizer: “Eu posso mudar isso. Eu posso alterar a sua órbita. Eu vou tentar”. Eu não queria o conformismo. Eu não queria a verdade.

Lamentos. De ambos os lados uma sensação de derrota pela fatalidade descrita. Nas lágrimas de um a ânsia de um desejo abafado e sufocado. Um exército de esperanças derrotado no fronte da batalha. Nos suspiros do outro uma sentença clara de covardia exaltada para que qualquer coisa não chegue perto e se mantenha afastada, como se um risco de contágio fosse eminente.

Eu não posso mais continuar assim contida, encolhida num canto escuro esperando um aceno, um convite e um olhar de ternura. Essa é uma boa hora para despedidas e chamar o caminhão da mudança. Vou mudar de endereço e me instalar na sobriedade da minha lógica. Necessário e imprescindível. Mas sempre quando a decisão se aproxima do fim, um sinal de desapontamento se manifesta do outro lado da sala e pergunta: “cadê você minha doce obsessão?”

Nessa hora eu me perco no tempo, no espaço das horas, dos minutos e dos segundos relembrando aquele gesto singular de consideração espontânea e inesperada que entorpece meus sentidos, limita minha visão e me coloca num estado de topor involuntário.

E com esse acaso despretensioso pondero que a única solução para mim é o sufrágio dos pensamentos e das interpretações de ocasião. Conveniência que mascara o óbvio. Subterfúgios de uma mente insana. E por fim, uma placa de aviso deveria ser colocada em meu próprio peito em um alerta compulsivo: afaste-se, perigo!

Written by Babi Arruda

04/03/2010 às 10:32

17 Respostas

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  1. “Eu te deixo partir porque sei que você não vai conseguir me acompanhar” – Mulheres como nós normalmente são fortes demais para apenas homens comuns. A gente quer sempre mais. E um dia encontra 😉

    @amanda_arm

    04/03/2010 at 15:42

  2. Às vezes só é muito complicado pensar demais e ser essa fortaleza 24 horas por dia. Eu sempre quero mais. Será que isso é errado? Um dia também espero encontrar e ser encontrada 😉

    Babi Arruda

    04/03/2010 at 15:51

  3. Babi, boa tarde.
    Sei que não é boa hora, mas conheci seu blog agora.
    Gostei daqui, você escreve muito bem.
    Até mais. 😉

    Diego de Morais

    04/03/2010 at 16:37

  4. Por que não é uma boa hora? É sempre hora =)

    Seja bem vindo, sinta-se a vontade e muito obrigada 😉

    Babi Arruda

    04/03/2010 at 16:41

  5. Mais uma vez fique longe de barbitúricos, lâminas cortantes e chocolates!

    Brincadeira. Lembre-se do poeta: “No bar todo mundo é igual” (R. Rossi)

    Bjos

    Lu

    04/03/2010 at 17:38

  6. Babi como sempre mais um post de qualidade, sou muito fã do seu site, gosto de ler cada texto que escreve.

    Abraços e até o próximo

    Edy

    06/03/2010 at 19:51

  7. Ahhh muito obrigada Edy…fiquei até besta agora *_*

    Babi Arruda

    07/03/2010 at 10:32

  8. que texto intenso! parabéns!

  9. Ai…fico feliz que vc tenha gostado Costábile…isso é uma honra =)

    Obrigadinha =*

    Babi Arruda

    08/03/2010 at 13:22

  10. Clap! Clap!
    Muito bom mesmo!

    As vezes nós mulheres temos que pensar por dois, quando não três, e ainda entender todos os lados e no fim tomar as decisões… ser forte nem sempre é o caminho mais fácil… muito menos doce….

    bjus

    Tati

    09/03/2010 at 15:30

  11. Sim…as decisões mais acertadas com certeza são as mais difíceis. Doem no coração, na alma, porém, o resultado gratificante só iremos ver lá no futuro. Eu sei que vc me entende pq vc é uma mulher de decisões difíceis 😉

    Beijão

    Babi Arruda

    09/03/2010 at 15:34

  12. Sei bem como é esse nó na garganta e o coração apertado. No meu caso, depois de um término devastador, ainda tive que dizer “não me ligue mais”. Tenho certeza que doeu mais em mim no que na outra pessoa.

    Thaís

    09/03/2010 at 15:52

  13. Com certeza pq às vezes o não é a melhor solução, porém é uma decisão racional que machuca muito o emocional. É muito difícil ser adulto. É muito difícil tomar as decisões certas.

    Babi Arruda

    09/03/2010 at 15:56

  14. EU AMEI O TESTO LINDOOOOO….TUDO QUE PRECISO É SER FORTE !!!PROCUREI NO GOOGLE E ENCONTREI SEU SITE MARAVILHOSO!!

    VC TEM ALGUM TESTO QUE PAR “ESQUECER FANTASMA DO PASSADO “.

    Giovana

    02/12/2011 at 21:42

  15. texto

    Giovana

    02/12/2011 at 21:42

  16. Babi Arruda, quando li seu texto fiquei impressionada com sua forma de escrever. Parabéns. Ver algo tão bem escrito assim faz bem pra minha alma… Nossa ! Estou maravilhada. Continue escrevendo sempre.

    Maria Sueli

    30/10/2015 at 16:46

    • Eu que agradeço suas palavras Maria.

      Beijão 😉

      Babi Arruda

      30/10/2015 at 17:16


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